sábado, 14 de abril de 2012

Além da própria evolução

coluna exclusiva




Além da própria evolução

Michele Smalti


Cerca de 7 bilhões de pessoas no mundo, a grande maioria seguindo o mesmo ritmo atordoante e corrido de sempre, tanto que mal percebem o quanto suas vidas passam como num piscar de olhos. Tecnologia, capitalismo, consumismo, materialismo, culto ao corpo e a incessante busca por status à todo custo. Interesses pessoais são o mais importante que tudo. Crenças aparentemente inabaláveis e vidas caminhando sempre na direção daquilo que lhes é conveniente e prazeroso. Roupas caras, celulares de última geração, taças de champanhe e saltos altíssimos ditam a moda. Essa é a vida que boa parte da população leva ou almeja levar.

Dentre a maioria, surgem os loucos, os desajustados, os extremistas. Aqueles chamados de vagabundos, desocupados, filhinhos de papai. Os que trabalham pra viver e dedicam tudo que podem de seu tempo, dinheiro, energia, dedicação e sabedoria a fazer o bem ao próximo, independente de espécie.

Dentre tantos outros, surgem os que escolheram se importar com algo além de sua própria evolução. Escolheram se importar com a minoria, e ao contrário do que muitos dizem, eles se importam com a péssima qualidade da saúde pública, se importam com as crianças nas ruas, se importam com os idosos, se importam com cada pessoa passando fome no mundo, e se importam com toda e qualquer injustiça da qual possam tomar conhecimento. Mas escolheram lutar pela pior das minorias, a mais esquecida e mais sofrida, a minoria que nasce apenas pra satisfazer o ser humano. A minoria que vira "alimento", calçados, roupas, a minoria que é esquecida pela sociedade nas ruas, mas que são servidas em seus pratos e alimentam os seus corpos. A minoria que tem sua pele arrancada, enquanto ainda vive, pra que possa aquecer os ombros e o ego de mulheres preocupadas em provarem que são umas "melhores" que as outras, quando na verdade carecem do que mais importa, ou pelo menos deveria importar.

O mundo está virado num caos, onde só o que importa é o crescimento material, e onde atitudes e sentimentos negativos são cultivados o tempo todo, não importando as consequências. E esse seleto grupo de seres iluminados, que são constantemente ridicularizados, mas que seguem firme na luta, são os defensores dos direitos dos animais. Pessoas capazes de realizarem qualquer esforço pelo bem de outro ser, por menor que seja, e por mais que esse ser possa ter sido desprezado e esquecido pela humanidade, essa é sua guerra, e essa é sua paz.

São à essas pessoas, que dedico este texto. As pessoas taxadas de chatas, inúteis, desocupadas que não tem mais nada de interessante pra fazer na vida. As sacaneadas de todo dia, as pisadas, humilhadas, que não necessitam que ninguém sofra, que nenhum sangue seja derramado pra facilitar as suas vidas e que são incapazes de proferir mal algum a qualquer ser. À essas pessoas o meu agradecimento, por todo aprendizado e por toda confiança que me proporcionam, de que um dia, mesmo que daqui há muitos anos, seja possível viver num mundo melhor.






*Michele Smalti, ativista e integrante do Onca RS.


.